quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A graduação das monitoras Josefa e Maria José do quilombo de Pedra d'Água

Josefa, do quilombo de Pedra d’Água, se tornou monitora no projeto Escrilendo em setembro de 2012 quando ainda estava cursando o ensino médio superior.
Maria José, irmã de Josefa, entrou na equipe em abril de 2014. Poucos meses depois, ambas acessaram à faculdade de pedagogia na Universidade Estadual Vale do Acaraú em Campina Grande. Foram três anos de grande compromisso e muita garra: todos os sábados as cinco horas da manhã de moto até Serra Redonda, em seguida de ônibus até Campina Grande e mais dois ônibus urbanos para chegar à universidade. A volta à casa as 19.00 horas.
Precisa muita teimosia para subir e descer, quando chove, aquela ladeira lamacenta que leva ao distrito de Pontina, assim como aguentar o calor durante o verão. Mas as nossas duas heroínas nunca desistiram alcançando assim a importante meta da graduação em pedagogia. Uma meta importante para elas, para Escrilendo e para a comunidade toda: uma demonstração de como é possível alcançar resultados inesperados quando é oferecida uma oportunidade a quem nunca teve possibilidade nenhuma.
Sábado, 26 de agosto, fui assistir a defesa do TCC; foi um momento mágico, especial, ver as “minhas meninas” apresentar, emocionadas sim, mas com competência o seu trabalho. Trabalho inédito sobre a atividade do projeto Escrilendo nas comunidades quilombolas como instrumento de educação étnico-racial e de recuperação das raízes afro. Escrilendo não somente proporciona novos conhecimentos as crianças, mas também é um precioso estimulo a formação de novas lideranças nas comunidades.
Tenho a certeza absoluta que as duas novas formadas partilharão o seu conhecimento ajudando os quilombolas de Pedra d’Água a ter sempre mais consciência da sua identidade étnica e dos seus direitos.
Parabéns Josefa e Maria José, mas lembrem se que este é somente o começo de um novo caminho para vocês e para a sua comunidade. Não deixem de sonhar e de continuar a lutar para realizar os seus sonhos.

Para quem não o conhece, o projeto Escrilendo é uma atividade da Associação de apoio as comunidades afrodescendentes – AACADE que atua nas comunidades quilombolas de Pedra d’Água, Matias, Grilo e Matão envolvendo mais de 70 crianças.
Até hoje quatro monitoras conseguiram a graduação em pedagogia: Rosimare, Josefa e Maria José de Pedra d’Água e Rosângela do Matão. Renata (Matão) está no segundo ano de enfermagem, Andreza (Matão) no primeiro ano de agrologia e Roseane (Grilo) entrou, há três meses, na faculdade de pedagogia. Marília (Matias) concluiu em junho um curso de especialista em tranças e penteados afro.

O projeto Escrilendo é possível graças a ajuda de amigos italianos da Associação Uniti per la vita de Arese (Milão).